Culto aos Ancestrais


Culto aos Ancestrais
As duas faces da mesma moeda
Por Sóror Fortuna

Não se tem uma data precisa do nascimento do Culto aos Ancestrais, tampouco pode-se demarcar geograficamente onde este culto teve início. Acredita-se que esta já era uma prática comum entre os Atlantes. No entanto podemos afirmar que há vestígios deste costume em praticamente todas as partes do mundo desde as épocas mais remotas. Ainda hoje o Culto aos Antepassados desempenha um papel significativo entre as mais diversas religiões. Isso não é nenhuma novidade. O que me desperta a atenção é a diferença de finalidades em que o rito é praticado e a falta de observância de alguns conceitos básicos que podem de certa forma transformar o rito em algo prejudicial à quem pratica.
A maioria das religiões orientais, como o budismo, o Taoísmo, a Perfect Liberty, a Seicho-no-ie que não é uma religião e sim uma filosofia de vida, entre outros pregam o culto aos ancestrais. O significado do culto  entre eles não é somente o de agradecer a os ancestrais, mas acima de tudo é  uma forma de se dar valor e continuidade à família. Um costume que visa lembrar os mais jovens que devem fazer sempre o melhor de si, tendo como exemplo os antepassados. Trata-se de uma maneira de forçar a evolução pessoal e dar continuidade a família através da lealdade, da moral e dos bons costumes, ou seja, manter a “honra da família”.
No Antigo Egito, assim como entre os Astecas os ritos de passagem tinham outra conotação. Celebravam-se cultos com o objetivo de ajudar o recém desencarnado a fazer a travessia entre o plano físico e espiritual. Acreditava-se que aquele que acabara de partir enfrentaria difíceis obstáculos até encontrar o local onde poderia prosseguir a sua vida no plano espiritual.
De acordo com a mitologia Azteca, Mictlan era o local para onde iam todas as pessoas que morriam de causas naturais. Mas o caminho não era fácil, antes de se apresentar aos “amorosos guardiães do submundo” o recém desencarnado deveria superar diversos obstáculos. Pedras gigantescas que rolavam de colinas, ventos,  desertos, o crocodilo Xochitonal e um caudaloso rio que o morto atravessava com a ajuda de um cão que era sacrificado no dia de seu funeral. Ao chegar, então o defunto deveria fazer oferendas aos Deuses do submundo.
Os egípcios acreditavam que após a morte o indivíduo, independente de sua classe social, perdia todas as regalias e prazeres da vida. Para ter o direito de recuperar estes benefícios em sua nova existência, a alma recém desencarnada era conduzida pelo Deus Anúbis ao tribunal de Osiris onde tinha sua vida terrestre avaliada por nada mais nada menos que quarenta e dois deuses. Para receber a aprovação das divindades era necessário que o julgado tivesse vivido uma vida pura sem cometer infrações que podem ser comparadas com os pecados do cristianismo. No ápice do julgamento Osiris pesava o coração do morto em uma balança. Se o seu coração não estivesse mais leve que uma pena, então era reprovado e tinha sua cabeça devorada pela Deusa Amnut, representada pelos três animais mais temidos no Egito: Cabeça de crocodilo e corpo com partes de leão e hipopótamo. Os aprovados viveriam para sempre no Duat, um reino similar à Terra em companhia dos Deuses.
Os Celtas davam tal importância ao culto aos antepassados, que de acordo com o calendário Celta, o ano tinha início no dia 1º de novembro, que, segundo eles, era o principal dia do ano em que o véu entre os mundos estava mais tênue, ou seja, havia uma melhor possibilidade de comunicação com o plano espiritual. Neste dia era comemorado um importante festival: Samhain – “A festa dos Mortos”.  No entanto, é importante lembrar que os Celtas, não evocavam os espíritos de seus ancestrais e nem lhes faziam qualquer tipo de pedido, apenas lhe enviavam boas energias e votos de felicidade.
Os antigos nórdicos, levavam ao extremo sua crença de que depois de mortos deveriam passar por diversas provas antes de alcançar o local onde seriam recebidos pelos Deuses para continuar suas existências que quando morriam, a família sacrificava serviçais para acompanhá-los e ajudá-los a fazer a travessia.
O Heimskringla narra sobre o rei sueco Aun , que sacrificou nove filhos num esforço para prolongar sua vida até que seus súdidos o impediram de matar Egil, seu último filho.

De acordo com Adão de Bremem, os reis suecos sacrificavam escravos homens a cada nove anos durante o Yule, no Templo de Uppsala. Os suecos tinham o direito de eleger e depor seus reis. Conta-se que o rei Domalde e o rei Olof Trätälja foram sacrificados.
Odin, o pai dos Deuses do Panteão nórdico era associado à morte por enforcamento. Uma possível prática de sacrifícios odínicos através do enforcamento encontra apoio nas evidências arqueológicas - como os corpos perfeitamente conservados pelo ambiente ácido dos pântanos de Turfa da Jutlândia, no qual  as vitímas teriam sido jogadas após executadas. Um dos mais notórios exemplos é o Homem de Tolluind, da Idade do Bronze. No entanto não existem relatos escritos que interpretem de maneira explicita a causa destes estrangulamentos, de forma que podem ter outras explicações  - como uma forma de pena capital.


Ente os povos pagãos e as religiões xamânicas percebe-se um grande respeito pelos espíritos ancestrais que jamais são desrespeitados. De uma forma geral podemos dizer que estes povos somente pedem ajuda para seus ancestrais em momentos de dificuldades onde necessitam de sabedoria e coragem. Neste caso, o Xamã ou chefe espiritual da tribo realizava um ritual para evocar o espírito de seu antecessor ou do ancião mais sábio de sua comunidade.
Na maioria das religiões Afros o culto aos Antepassados existe. Eles são considerados como mensageiros entre os homens e o poder divino, como os Orixás ou Loas do Vodu. Por isso as entidades da Umbanda da linha de Pretos Velhos  se apresentam como, Pais, Mães, Avós, porque provavelmente durante suas existências físicas eram anciões sábios de suas tribos. Uma Preta Velha me contou certa vez que seus netos foram trazidos para o Brasil como escravos. E, quando estavam aflitos na senzala sempre a evocavam pedindo ajuda e foi desta forma que ela começou a trabalhar. Primeiro dentro da própria senzala na cidade de Ouro Preto e agora continua sua missão espiritual nos terreiros de Umbanda.
Estes são apenas alguns exemplos de uma tradição que vem sido preservada pela  humanidade desde os tempos mais remotos. No entanto nos dias atuais podemos notar que o culto tem tomado um vulto um tanto diferenciado onde a emoção e o sentimentalismo daqueles que perderam seus entes queridos podem transformar a prática em um “Culto ao morto” de forma errônea que pode prejudicar tanto aqueles que o praticam quanto os entes desencarnados que muitas vezes ao invés de receber vibrações de gratidão e afeto são bombardeados com lágrimas, lamentações e pedidos de ajuda. É errado acreditar que nossos entes queridos simplesmente por estarem desencarnados podem nos ajudar. A morte deve ser encarada como uma continuação evolutiva desta vida. O fato de desencarnar não nos transforma em anjos ou iluminados dominadores de todos os conhecimentos presentes e futuros. Tais pedidos de ajuda e lamentações direcionados à espíritos recém desencarnados pode causar-lhes sofrimentos e prender-lhes ao último ego de existência atrasando-lhes a evolução. Existe ainda a possibilidade do cultuador estar alimentando cascões astrais que passarão a vampirizar-lhe e aos que lhe rodeiam com o objetivo de se alimentar energeticamente e manter-se vivo.
O REIYUKAI é um exemplo de culto ao ancestral ao meu ponto de vista totalmente errôneo. Ele ensina a pessoa a criar um altar dentro de sua casa onde diariamente se evoca através da água, que é o principal meio de comunicação com o plano espiritual e do Ar, utilizando-se de incensos a presença de seus ancestrais e amigos queridos que partiram para a outra vida. Acreditam que com esta prática estão alegrando seus antepassados. Isto não é uma prática saudável, agindo desta forma estaremos prendendo o espírito à este plano do qual ele já não faz parte. Não podemos atar nossos entes desencarnados a nós, isso não é amor, é possessão. É uma forma de obrigá-los a preencher o vazio que a falta deles nos faz. É preciso deixá-los partir para que possam evoluir em paz e acreditar que a hora do reencontro chegará no devido momento.
Tampouco é certo quando perdemos um ente querido, continuar a agir como se ele ainda estivesse entre nós, mantendo seus objetos intactos na casa e conversando mentalmente ou com fotografias da pessoa desencarnada. Quando uma pessoa se vai precisamos nos desfazer de suas roupas e objetos doando seus pertences. Desta forma sua energia restante neste plano não ficará estagnada e não tomará forma vindo a vampirizar os membros da família.
Outro erro que podemos observar entre os Umbandistas é o fato de acreditarem-se responsáveis por seus antepassados e assumirem seus erros. Nós não podemos assumir os erros de outras pessoas ou ser culpadas por seus atos. Podemos ser-lhes gratos, enviar-lhes vibrações de luz, amor e sabedoria. No entanto cada um de nós é responsável por seus próprios atos. Cada vive a sua própria vida e por isso não podemos e nem devemos atrair o carma alheio para nós, mesmo porque, a parte que nos cabe já nos foi entregue através da ancestralidade.
Sim, o karma coletivo existe! Karmas familiares, de cidades, países e povos. Estamos no lugar certo e no momento exato. Se este carma existe, é sinal de que já estamos pagando pelos erros de nossos antepassados e portanto não temos que redimi-los duplamente. Cada um que cumpra o seu papel, pois é só através deste exercício é que o ser humano cresce espiritualmente. Quando dividimos o Karma de outro, pensando estarmos fazendo o bem, estamos prejudicando-o por atrasar o seu processo de evolução espiritual e portanto gerando mais Karma.
Á esta altura, a única conclusão que posso chegar é que a Igreja Católica Romana adotou a melhor forma de Culto aos Ancestrais instituindo um dia no ano em que a família visita o ente querido em sua última morada, isto, levando em conta que a maioria das pessoas não tem conhecimento e entendimento que nós ocultistas possuímos do plano astral e das entidades que o povoam - pois desta forma, estarão reduzindo o perigo de se atrair um cascão astral ou até mesmo um espírito de um ente desencarnado para dentro de casa. É importante lembrar que no Universo só há fome. Qualquer ser precisa de energia para sobreviver, e é por isso, que os seres desencarnados, estando em nosso plano, sem um corpo físico para suprir suas necessidades tem por obrigatoriedade que sugar suas energias de alguma fonte viva. Vale ainda lembrar que ainda assim, corre-se o risco de que uma entidade o acompanhe até a sua moradia, por isso, os banhos de ervas e rituais de banimento são recomendáveis após as visitas ao cemitério.
Os pagãos e pessoas mais esclarecidas espiritualmente possuem outras práticas de culto aos ancestrais. Alguns queimam seus nomes no caldeirão na noite de Samhain, outros oferecem-lhes presentes e comidas, isso de acordo com a cultura de cada um. O mais importante é ter em mente que as vibrações devem ser sempre positivas sem nenhuma conotação de sofrimento.

A crença generalizada na existência da morte, como aniquilação individual, fez sumir a visão de longo prazo e afetou o planeta inteiro. Não se prepara mais o futuro, apenas se vive em busca de prazeres e desejos pessoais do ego. O capitalismo é uma forma de vida geradora de desejos. O homem está destruindo o planeta e a si mesmo. Definitivamente não há morte como a concebemos. A morte existe apenas porque não se sabe o que a vida é, porque ainda estamos inconscientes da vida, da sua ausência de morte.

Assim os que perguntam o que acontece após a morte o fazem por não lhes ter acontecido nada durante a vida. É necessário um nascimento espiritual, para que a Vida nos permeie em sua abundância. Quando se conhece a Vida, se conhece a morte. A morte é apenas uma transição de um estado de consciência para outro, e a única coisa que morre é a morte. A morte é apenas uma PASSAGEM. E essa passagem deve ser o triunfo de uma existência, seu mais glorioso momento.
 
A vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro.
John Lennon (1.940-1.980)



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